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Neste terceiro e último episódio da série As Mulheres do Blues, nos aproximamos do fechamento do ciclo do classic blues, acompanhando vozes que atravessaram o vaudeville, o jazz e a canção popular, expandindo os limites do blues feminino urbano e deixando um legado duradouro para a música do século XX.
O classic blues, surgido nas primeiras décadas do século, não foi apenas um estilo musical, mas um campo de experimentação artística e social. A partir dele, o blues se sofisticou, dialogou com o jazz, com o teatro musical e com a indústria fonográfica, sem perder sua ligação profunda com a experiência negra, a migração, a cidade e o corpo.
Abrimos o programa com Ethel Waters, uma das artistas mais versáteis de sua geração. Sua trajetória marca a transição do blues de vaudeville para o jazz e o musical urbano. Em canções como Am I Blue, Stormy Weather e Taking a Chance on Love, Ethel transforma o blues em performance refinada, levando a experiência afro-americana aos palcos da Broadway e ao cinema, sem romper com a melancolia, a ironia e a força emocional que estruturam o gênero.
Na sequência, Alberta Hunter aparece como síntese de longevidade e resistência. Migrante do sul para o norte dos Estados Unidos, cantora de clubes, palcos internacionais e apresentações para soldados durante a Segunda Guerra Mundial, Alberta cantou o blues como forma de sobrevivência. De faixas clássicas como Downhearted Blues à afirmação resiliente de I’m Down Right Now But Won’t Be Down Always, sua obra atravessa décadas. As gravações tardias que encerram a playlist, como Amtrak Blues, revelam uma voz marcada pelo tempo, onde o blues se transforma em memória viva.
Entre essas trajetórias, Bertha “Chippie” Hill surge como expressão direta e crua do blues feminino urbano. Em canções como Trouble In Mind, Lonesome, All Alone And Blue e Pratt City Blues, o blues aparece como confissão, cansaço e dignidade. Poucas gravações, mas um impacto profundo, que ecoa como verdade emocional sem ornamentos.
Este episódio encerra a série reafirmando o papel central das mulheres negras na consolidação do classic blues — artistas que transformaram dor em linguagem, experiência em música e vida em memória sonora. O blues como história cantada, atravessando o tempo, a cidade e o corpo.
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