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O programa de hoje homenageia o multitudo Sr.Som. Matthew Herbert, músico, produtor, filho de técnico de som da BBC, o cara pensa o mundo como musica e organicidade.
Leia mais sobre essa figura incomum no seu site que é du caralho!!!!!. E se gostar do pique do cara entre no site de seu Selo Accidental Records.
Algumas idéias de Matthew Herbert estão na entrevista do El País que saiu na Folha de São Paulo neste Domingo e você lê aqui:
PERGUNTA – A música eletrônica “inventou” uma nova tradição ou ela se limita a se adaptar à realidade que já existe?
MATTHEW HERBERT – Ela criou uma nova tradição, breve, mas poderosa, baseada em parte em modelos velhos (a caixa de ritmos ainda é sua coluna vertebral, apesar de isso ser um absurdo), mas também num bom ouvido atento a novos caminhos para a desconstrução do som.
Ela tem a oportunidade de ser vibrante mais uma vez, mas precisa se libertar da tirania do novo, da distração tecnológica e da vaidade. O mundo está gritando para nós histórias terríveis; precisamos esvaziar as máquinas das pré-programações, ligar um computador e começar a ouvir.
PERGUNTA – Por que a música eletrônica costuma ser vista como uma via de escape hedonista?
HERBERT – Ela tem suas raízes na música para dançar, que durante centenas de anos esteve associada ao hedonismo e ao escapismo. Apesar disso, ela é sobretudo uma forma de música instrumental, e isso a converteu numa ponte difícil de atravessar para chegar a seu significado.
PERGUNTA – Você acha que o toca-discos é o último instrumento inventado no século 20?
HERBERT – Acho que não. Ele é importante, mas, historicamente falando, é apenas uma transição entre as primeiras gravações e as formas de distribuição digitais e efêmeras.
O sampler [equipamento que armazena sons, parecido com um sintetizador, e permite reproduzir diferentes efeitos, de acordo com a configuração criada pelo DJ] é o instrumento mais importante do século 20: ele permite que se escreva música com o sujeito, mais que simplesmente sobre o sujeito.
PERGUNTA – Quais são as conseqüências estéticas e éticas da implantação do sampler?
HERBERT – Se estamos falando do sampling de trabalhos musicais já existentes, as conseqüências são muitas. Trata-se essencialmente de uma batalha entre a imaginação e o consumismo.
O acúmulo desenfreado de recursos (o mundo da música gravada) a baixo custo pelo realizador (o músico que faz o sampling) pode ser comparado a um império cultural.
A lógica diz: “Por que pagar por alguma coisa quando você pode tê-la de graça?”. Sem levar em conta o resultado final, que às vezes pode ser sublime, existe um juízo estético, feito por pessoas que não estavam presentes à sessão de gravação original, sobre quais os momentos que valem a pena ser recriados.
É a reescrita da história.
Quando se faz o sampling de um som com um microfone (xícaras, automóveis, guerras…), esse problema não existe: é simplesmente uma história.
O músico se converte no amplificador da história, mais que em seu censor.
PERGUNTA – O uso do sampler torna obrigatório rever a concepção de autoria. Em que termos esse conceito precisaria ser formulado?
HERBERT – Hoje é mais difícil estabelecer a autoria na música. Às vezes [os músicos] são como arranjadores de flores, que usam os samplers como caules diferentes.
Na literatura, seria vergonhoso pegar algumas palavras de Joyce, algumas outras de Lorca e colocar todas juntas. Na música contemporânea, não.
Acredito que, na composição com samplers, você não pode afirmar que é a primeira pessoa no processo criativo. Você está usando a visão de outra pessoa como seu ponto de partida.
O autor, de certa maneira, se converte em consumidor.
PERGUNTA – Poderíamos dizer que trabalhar com samplers é organizar o caos de sons que nos rodeiam, enquanto trabalhar com instrumentos convencionais seria uma maneira de reorganizar o silêncio?
HERBERT – Não acho que os sons que nos cercam sejam caóticos. Eles têm um ritmo e um propósito, como numa sinfonia de Beethoven. Os carros vão passando de acordo com as mudanças nos faróis de trânsito, que foram programados. Os telefones tocam mais em alguns momentos do dia que em outros.
Acho que às vezes temos a oportunidade de decifrar alguns dos mistérios da vida ouvindo esses padrões com atenção.
A música é uma organização do som. Levando isso em conta, o sampler e a orquestra são idênticos.
PERGUNTA – As condições sociais e tecnológicas vigentes variam com o tempo. Apesar disso, o conceito de ideologia e de denúncia não mudou com rapidez equivalente. Você concorda?
HERBERT – Com certeza. Nos foi vendida a idéia de que a sociedade é um estado constante de progresso. Cada tecnologia é superada pela tecnologia seguinte. Existem poucos momentos para o pensamento e muito pouco espaço para a discussão.
Temos populações que não votam, mas que sabem enviar mensagens com fotos, por meio do Bluetooth [tecnologia de conexão sem fio à internet].
Temos inclusive exemplos vergonhosos de publicidade, como a da Diesel, que usam imagens de protestos de rua para vender roupas. Acho que esse é um ponto realmente baixo a que a cultura popular chegou.
PERGUNTA – Onde está a ideologia de sua música quando não é expressa explicitamente por meio de uma mensagem verbal, gestual ou instrumental?
HERBERT – Está na distribuição, que é tão extensa quanto o significado da palavra independente.
Não usamos plástico nas embalagens, apenas nos CDs propriamente ditos. Na música, converto a merda em arte, a poluição em uma atuação, tudo o que nos cerca em música.
muito bom, Amadeu, mandou bem. para variar 🙂
adorei todas as músicas, a minha preferida foi a segunda do play-list. tem como mandar o nome dela? e CD ?