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MarginalS é um trio ou melhor um super trio de música instrumental que passeia por diferentes linguagens musicais, do jazz ao rock, da beat africana aos tambores brasileiros. “O som inicia de uma forma abstrata, às vezes já com um não denominado groove, ou às vezes free, e toma um formato natural baseado na confiança que os músicos tem um no outro e em suas influências, que variam de Coltrane a Fela Kuti a primórdios do soul, tomando um rumo criado no momento, que se movimenta e termina em um lugar indefinido porém seguro, enraizado na sincronicidade dos músicos”.
No mês de setembro eles lançaram seu primeiro disco no Espaço Serralheria (SP) e vem apresentando sua arte em diversos espaços de São Paulo/Brasil. O trio é formado por Marcelo Cabral (contrabaixo acústico), Thiago França (saxofone, flauta, EWI), Tony Gordin (bateria). O som do MarginalS pode ser ouvido em nosso player acima e o seu disco está compartilhado na integra >AQUI<
Abaixo reproduzimos uma parte da entrevista dada por Thiago França ao site “Eu Ovo“
Como é o som dos MarginalS?
Nosso som é 100% improvisado, ou seja, cada show é único, tudo é espontâneo e instantâneo, mas o MarginalS tem uma cara, um jeitão, e uma sonoridade. A gente passeia pelo caos e pelo lírico, por grooves pesados e abstrações musicais. O grande lance é o encontro dos três, eu Cabral e Tony, cada um com a sua história e fazendo um som junto. Eu, por exemplo, tô sempre pensando em caminhos alternativos como solista, o saxofone já foi explorado tanto que parece que não há mais o que fazer. Tenho usado alguns pedais de efeito (delay, octaver, phaser…) pra criar texturas e situações, montar acordes, distorcer o som do instrumento, dá pra sacar bem isso no disco. Ou às vezes, simplesmente me jogar na fogueira sem saber o que vai sair e criar em cima disso. O disco não teve pós-produção, todos os efeitos rolam na hora mesmo, tudo ao vivo, a não ser na última faixa do disco (parte 2, parte 3), que passamos um filtro na bateria e colocamos um drive (aquele efeito meio rachado) no baixo acústico e no EWI (que é uma espécie de saxofone MIDI, tipo um teclado), mas ficou sutil e natural, muita gente nem percebe. Daqui um ano, não sei como vai estar o som, e não importa: o mote mesmo é tocar junto, o que acontece quando nós três nos encontramos, aconteça o que acontecer, um por todos, todos por um. Estamos bem felizes de ter gravado o disco e lançado no nosso aniversário de um ano e da repercussão que está tendo.
Como nasceu o primeiro disco? Foi pensado em algum conceito?
O disco existe por ele próprio, como um retrato. Não sei se você está se referindo aos vídeos do MarginalS no youtube. Eles não tem a ver com o disco, são extratos de gravações da época que a gente tocava no +Soma. Queríamos disponibilizar alguma coisa, mas um trecho sozinho não tem o mesmo sentido que no set completo (geralmente com 1 hora de duração), pois como a gente toca sem parar, o que vem antes e depois é essencial, muda completamente a impressão daquele som. Daí veio a idéia dos vídeos, que no caso, a música entra quase que como trilha sonora e ganha vida própria, independente do todo de onde ela surgiu.
Pirataria e acessibilidade
A gente é completamente a favor de disponibilizar tudo, mas nessa questão que você levantou, baixar um disco é só a ponta do iceberg. Historicamente, tirando alguns medalhões como Ivete Sangalo, Roberto Carlos, Xitãozinho e Xororó, entre outros desse quilate, artista nenhum ganhou dinheiro com venda de disco, o disco sempre pertenceu às gravadoras. Hoje, o disco é propriedade do artista, somos nós que decidimos o destino dele. Daí, você vê artistas como o MarginalS, o Metá Metá (que tem eu, Kiko Dinucci e Juçara Marçal), Criolo, Romulo Fróes, entre muitos outros, disponibilizando seus discos pra quem quiser baixar, enquanto outros artistas tão fazendo de tudo pra impedir isso, vide o caso da Ministra Ana de Hollanda. Ela tem os motivos dela. Independente duns trocados a mais ou a menos que viriam pros nossos bolsos, o acesso leva e traz muita coisa pra muita gente. Funciona quase que como um acordo de cavalheiros, você baixa o meu, eu baixo o seu, e tá tudo certo, todo mundo quer ouvir e ser ouvido. No lançamento do CD do Metá Metá em Curitiba tinha gente cantando todas as músicas do disco, e curiosamente, essas são as pessoas que compram o disco, elas valorizam o artista. Em um texto, O Hermano Vianna contava que o dono de um selo de música africana tentou lançar o Fela Kuti aqui no Brasil nos anos 80 e nenhuma gravadora se interessou. Isso é acessibilidade, você ter liberdade pra ouvir e pesquisar o que você quiser, apreciar música livremente, longe dos grilhões do jabá. 90% do que eu conheço de música africana, que é indispensável pra tudo que eu faço hoje, é graças a internet. Da mesma forma, as coisas que a gente faz chegam com muito mais rapidez ao público e com uma abrangência enorme, que é muito favorável. O cara que baixa música em casa é o mesmo cara que há um tempo atrás, copiava um vinil ou CD numa fitinha cassete. A proporção disso hoje em dia é infinitamente maior, mas esse cara só quer ouvir música. Pirataria é outra coisa… Pirata é quem lucra com essa “transação”. Você não paga pro artista, você não paga o download pro dono do site, mas o provedor de acesso você paga… Vixi, que esse papo vai longe…